História

História de Barretos e a ABC

Breve estudo sobre a contribuição de nossos patronos à cultura da cidade.

tudo sobre a contribuição de nossos patronos à cultura da cidade.

Por Karla Armani Medeiros, historiadora e acadêmica da cadeira 7 da ABC

 

Barretos é uma cidade localizada no noroeste paulista, próxima à fronteira do sul de Minas Gerais. Seus primeiros povoadores habitaram a localidade por volta dos anos de 1830, no contexto da queda da exploração aurífera mineira, desenvolvimento pecuário ao sul mineiro e das grandes extensões de terras paulistas a serem exploradas. Foi fundada oficialmente em 25 de agosto de 1854 pelas famílias Barreto e Marques, oriundas do estado mineiro, as quais doaram parte de suas terras para a construção do patrimônio do antigo “arraial dos Barreto”. Dois anos depois da doação de terras em 1854, foi erigida uma capelinha em invocação ao “Divino Espírito Santo”, ao redor da qual formou-se o patrimônio inicial da pequena vila com casas ainda em estilo colonial. Sucessivamente, a “Villa do Espírito Santo dos Barreto” foi elevada à freguesia em 1874 sob a jurisdição de Jaboticabal, tornou-se município em 1885 e sede de comarca em 1891.

As escalas administrativas que a cidade percorreu no final do século XIX é reflexo de seu desenvolvimento administrativo, econômico, político e social. A então Comarca de Barretos, já em 1890 apresentava seu Conselho de Intendência e em 1892 elegia seu primeiro Intendente Municipal, Raphael da Silva Brandão (patrono da cadeira 33 da ABC).

Nesta transição para o século XX, a cidade fincava sua principal atividade econômica: a pecuária, principalmente àquela voltada a prática de invernadas. Mesmo exercendo outras atividades agrícolas de pequena escala, como o cultivo da cana (inicialmente), a extração de madeira e a produção de café, foi na pecuária que Barretos marcou seu ponto no mapa brasileiro. Em localização geográfica estratégica, próxima aos criadores (centro oeste) e ao mercado consumidor (sudeste), a cidade tornou-se atrativa pelos pastos de invernadas e matadouros, além de residência de pecuaristas, negociantes e comerciantes de gado. Além disso, a proximidade com o rio Grande, pelo Porto João Gonçalves (depois denominado “Antônio Prado”), fazia de Barretos ponto geográfico essencial no transporte do gado, tanto que em 1903 a Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais instalou um vapor para transportar pessoas e boiadas. O transporte pecuário foi mais tarde facilitado pela chegada da ferrovia no ano de 1909, sendo Barretos o local da última estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A intervenção paulista também agiu para o melhoramento da atividade pecuária de Barretos através da criação da Companhia Frigorífica e Pastoril, por intermédio da figura do Conselheiro Antônio Prado, empreendedor, ex-prefeito de São Paulo e diretor da Paulista. Porquanto, em 1913, era instalado em Barretos o primeiro frigorífico do Brasil. Certamente, uma alavanca econômica para aquela cidade, que, apesar de grande extensão territorial, ainda ensaiava seus primeiros passos de urbanização.

Jornal “O Sertanejo” – 2 de fevereiro de 1901

A urbes se formava na medida em que nasciam as instituições administrativas, sociais e culturais, permitindo o entrelaçamento dos membros ativos, a oportunidade de mercado de trabalho e a materialidade da arquitetura dos casarões que logo apontaram no centro, bem como, do outro lado, a formação do bairro periférico: o “Outro Mundo”. Este, o bairro dos trabalhadores, ex-escravizados, operários do frigorífico, meretrizes, dentre outros; onde surgiu a primeira capelinha da Igreja do Rosário ainda no século XIX como destino do culto cristão aos cativos. Em 1900, foi fundado o primeiro jornal de Barretos, o denominado “O Sertanejo”, periódico, que apesar de conter folhetins literários, notícias científicas e notas sociais, era sobretudo uma plataforma política do Partido Republicano Paulista, tão vigente na Primeira República. Tanto que, o primeiro redator-chefe de “O Sertanejo” foi o Cel. Silvestre Gomes de Lima (patrono da cadeira 4 da ABC), mineiro, Intendente Municipal em Barretos, elegeu-se deputado estadual, farmacêutico formado no Rio de Janeiro, além de poeta renomado entre a crítica literária. Situação parecida com o próximo diretor do jornal, em 1903, o cearense Dr. Antônio Olympio Rodrigues Vieira (patrono da cadeira 30 da ABC), também Intendente, deputado, formado em Direito e líder político que antagonizava o cenário da política local com Silvestre. O jornal também serviu como veículo de textos e notas escritos pelo coronel mais popular da localidade, o Cel. João Carlos de Almeida Pinto (patrono da cadeira 18 da ABC), que, líder político, se aventurou pelo mundo da educação, da advocacia e até da fundação da maioria das instituições barretenses até a década de 1920. Além dele, o português Emílio José Pinto (patrono da cadeira 3 da ABC), também se debruçou em assinar diversos artigos e a participar de tensos momentos políticos da conturbada década de 1910. O agrimensor e escritor Jesuíno da Silva Mello (patrono da cadeira 2 da ABC), é considerado o primeiro pesquisador da história da cidade, por publicar em “O Sertanejo” sua coluna “Tradições de Barretos”, contendo relatos e depoimentos dos moradores mais antigos.

Catedral Divino Espírito Santo – 1929
Fonte: http://museuruymenezes.blogspot.com/2011/06/

Além do jornal, a transição do final do século XIX e início do XX foi o período de construção da Igreja Matriz (1893) e do surgimento da Sociedade Italiana “Unione & Fratellanza” (1895), da Maçonaria “Fraternidade Paulista” (1897), da “Sociedade Espírita 25 de Dezembro” (1906), da inauguração do Paço Municipal (1907), da agência de Correios e Telégrafos (1908) e da fundação da nova capelinha da Igreja Nossa Senhora do Rosário no bairro Outro Mundo (1909). Já a década de 1910 se inicia com a criação da Cadeia Pública (1910), do Grêmio Literário e Recreativo (1910), a iluminação elétrica (1911), o Teatro Aurora (1912), o 1º Grupo Escolar (1912), a organização das ruas, avenidas e praças (1915), a União dos Empregados no Comércio (1916), o Tiro de Guerra (1917), dentre outros. Os anos 1920 traz à tona a Santa Casa de Misericórdia de Barretos (1921) e o Teatro Santo Antônio (1923). Construídas em sua maioria por arquitetos italianos, em formato de prédios ricamente ornados no estilo neoclássico e art-nouveau, tais instituições eram mantidas pela direção e trabalho de profissionais liberais. A pluralidade deles era de migrantes, pessoas formadas em grandes centros urbanos, atraídos pelo mercado da pulsante economia barretense da pecuária. Foi assim que a cidade aos poucos se cercava de professores, médicos, advogados, engenheiros, construtores, comerciantes e diversos profissionais liberais. Na área do Direito, Barretos teve como seu primeiro Juiz o dr. Joaquim Fernando de Barros (patrono da cadeira 21 da ABC), bacharel versado nas leis, com publicações importantes na área e na política (fora defensor do separatismo paulista), além de ter sido deputado à época do Império. Outro juiz relevante à história da cidade, por ter participado de importantes momentos nas primeiras décadas do século XX, foi o dr. João Baptista Martins de Menezes (patrono da cadeira 17 da ABC). Mais tarde, outros advogados também se destacaram como o ex-prefeito e dissidente republicano Riolando de Almeida Prado (patrono da cadeira 14 da ABC); Francisco de Assis Bezerra Filho (patrono da cadeira 19 da ABC), que também desfrutava da ocupação de orador e professor; Atair Rios (patrono da cadeira 8 da ABC) que por mais de 20 anos foi presidente da 7ª Subseção da Ordem dos Advogados em Barretos e João Batista de Santana (patrono da cadeira 26 da ABC), este chegou a ser Procurador Geral do Estado de São Paulo em 1978.

Escola Municipal em Barretos no ano de 1909, antes de existir o ensino primário obrigatório e gratuito.
Fonte: Arquivo do Grêmio Literário e Recreativo de Barretos.

A esfera da Educação também se edificava como instrução, oportunidade de trabalho e ascensão intelectual. Barretos desde o fim do século XIX foi morada de diversos professores e agentes dos setores público e privado. Paulina Nunes de Moraes (patronesse da cadeira 34 da ABC), por exemplo, atuava no magistério de uma forma diferenciada. Se dedicava a ensinar crianças marginalizadas socialmente (inclusive, com doenças mentais) no bairro periférico da Igreja do Rosário (e assim fez por mais de 50 anos de magistério). Outro professor, já atuante no tão almejado 1º Grupo Escolar, foi Fausto Lex (patrono da cadeira 9 da ABC), que também era cientista. Assim como Luiz Castanho Filho (patrono da cadeira 39), professor e diretor do 3º Grupo Escolar, e Jorge Olegário de Almeida Abreu (patrono da cadeira 13 da ABC), professor e diretor, atuante nas redes pública e privada, além de colaborador da imprensa e dono de interessante trajetória educacional no estado de Rio de Janeiro. No entanto, os professores citados talvez não conseguissem atingir êxito na carreira se não fosse a ação de uma entidade que nobremente lutou para a instalação do ensino secundário em Barretos, a “Sociedade Escolas de Barretos” (SEB). Até sua fundação, em 1931, a cidade somente contava com o ensino público até o primário. Foi através de ações da SEB, liderada pelo advogado, jornalista e professor dr. Osório Falleiros da Rocha (patrono da cadeira 16 da ABC), que os jovens barretenses puderam contar com a continuidade dos estudos ginasiais.

Primeiro corpo médico Santa Casa Barretos – 1920

Boa parte destes professores e outros profissionais colaborava na imprensa local com artigos dos mais variados assuntos. A partir de 1925, atravessando a década de 1930 com a impactante Revolução Constitucionalista de 1932, os anos 1940 com a 2ª Guerra Mundial até fins dos anos 1970, a cidade serviu-se do jornal “A Semana”. Fundado pelos jornalistas Paulo Bezerra de Menezes (patrono da cadeira 5 da ABC) e Luiz Xavier Telles (patrono da cadeira 11 da ABC), esse jornal foi plataforma de exibição das atividades culturais que permeavam a cidade, a qual àquela altura já era conhecida como a “Capital Nacional do Gado”. Tendo inclusive sido sede de um parque para feiras expositivas de animais da Secretaria Estadual da Agricultura, o “Recinto Paulo de Lima Côrrea” (1945), criado por intermediação do “Sindicato Rural Vale do Rio Grande”, que desde 1931 foi fundado pela classe de pecuaristas. Ainda sobre a imprensa, colaboravam intelectuais de diversas áreas, inclusive médicos, que não se atinham somente a assuntos da ciência, mas teciam comentários acerca da política, ações do estado, da municipalidade e até religião. Como o caso do médico goiano dr. Francisco Xavier de Almeida Júnior (patrono da cadeira 15 da ABC), cujas ações ultrapassavam as salas da Santa Casa, e se mesclavam com a política partidária local e regional. O Dr. Bartolomeu Maragliano Vênere (patrono da cadeira 28 da ABC), campineiro, também é exemplo de médico que se apresentava à imprensa, assim como os drs. Wilson Ferreira de Mello e Geremaro Manhães nos anos 1940. Este último, junto ao Profº Adão de Carvalho, eram exemplos de intelectuais da comunidade negra atuante na cidade, a qual teve como principal instituição associativa e de entretenimento o Clube Estrela d’Oriente fundado em 1936.

Neste período, o jornal era ainda um estandarte da vida cultural barretense, que compunha-se por conferências, palestras, concertos musicais, apresentações teatrais, etc. Conferências com temas literários e históricos eram constantes na cidade, eram mediadas por beletristas como, por exemplo, que mesmo sendo engenheiro formado e político, atuava como grande orador de temas históricos e jornalísticos, sendo inclusive o fundador do Correio de Barretos em 1936 e prefeito na mesma década. José Dias Leme (patrono da cadeira 31 da ABC) era outro conferencista, poeta, fundador de jornais na região e chegou a ser presidente da U.E.C., uma das principais instituições a realizar conferências literárias. Instituição também presidida por Paulo Castor Gomes (patrono da cadeira 24 da ABC), que atuava culturalmente na cidade pelo seu talento como desenhista e caricaturista, tendo inclusive sido o desenhista de obras raras como o “Caretas do Zé Meneis e outros bichos careteiros” (1933) e do “cartaz” publicado em jornal na ocasião da primeira festa em homenagem ao peão de boiadeiro realizada pela prefeitura em 1947 no Recinto. Anúncios sobre concertos musicais eram incessantes na imprensa. Mesmo na mais remota folha, “O Sertanejo”, as apresentações musicais das bandas “Euterpe Barretense” (1898) e “Lira Barretense” (1902) apareciam nas principais linhas de reportagem, tendo ao centro o Maestro Antônio Gonçalves Gomide (patrono da cadeira 1 da ABC). Os jornais das décadas seguintes também anunciavam os músicos locais, mas principalmente os instrumentistas visitantes, como um dos exemplos mais antigos: a violinista italiana Giulietta Dionesi que visitara Barretos em 1905. Afra de Lima e Vicente de Lima (patrono da cadeira 25 da ABC) flautista e pianista, filhos do Cel. Silvestre de Lima, apesar de barretenses, foram viver em outras paragens, mas retornaram à cidade para se apresentarem em 1927. Marcello Tupynambá, pseudônimo de Fernando Alvares Lobo (patrono da cadeira 22 da ABC), é outro exemplo de músico que viveu em Barretos, mas fez carreira como maestro de grandiosidade na capital paulista. Em 1931, a cidade recebia músicos renomados como Heittor Villa Lobos, Antonieta Rudge, Dinorah de Carvalho e Helena de Magalhães Castro. Aliás, essa década foi marcada por anúncios de sucesso de pianistas barretenses como Adelaide Galati e Haydée de Menezes; a primeira como dona de um conservatório local e a segunda como integrante da “Instrução Artística do Brasil”. Neste interim, é fundada na cidade a sua primeira rádio, denominada “S/A Rádio Barretos” no ano de 1939.

Cinema Barretos

O teatro também foi demarcado pelos jornais como atrativo cultural desde os anos 1900 com a fundação da “Sociedade Instrução e Recreio” de “O Sertanejo”. A cidade, desde 1912, serviu-se de belos teatros e cinemas, como o Éden, Santo Antônio e o Cine Barretos, que, dono de uma original arquitetura art-decor, foi inaugurado no ano de 1946. Voltando aos tempos dos coronéis, estes, com seus títulos da Guarda Nacional (1902), na verdade eram anunciados como atores das peças teatrais. Mais tarde, diversos artistas do teatro amador eram destacados, como Hildebrando de Araújo, Humberto Bevilacqua (patrono da cadeira 29 da ABC), João Falcão, Dermeval de Almeida e outros tantos. Mas, nem só de teatro amador a cidade se serviu, afinal foi em Barretos que viveu o renomado dramaturgo Aluísio Jorge Andrade Franco (patrono da cadeira 6 da ABC), cuja obra a partir da década de 1950 ressoou temas sociais brasileiros importantes em formato de teatro e novelas. José Expedito Marques (patrono da cadeira 32 da ABC) também contribuiu para o profissionalismo no teatro barretense, criando diversos grupos de teatros a partir da década de 1960 e compondo obras dramaturgicas. Tanto que a cidade foi exportadora de talentos reconhecidos nacionalmente, como é o caso do ator e diretor teatral Luiz Carlos Arutim (patrono da cadeira 37 da ABC), também revelado pela participação em peças de Expedito Marques. A década de 1940 ficou marcada pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que, apesar de não acontecer em solo brasileiro, dispôs do exército do Brasil através dos “pracinhas” que lutaram na Itália contra os exércitos dos regimes totalitários. Dentre os 23 pracinhas que saíram de Barretos, o recente advogado Francisco de Assis Bezerra de Menezes (patrono da cadeira 36 da ABC) ficou conhecido, por entre uma batalha e outra, compor músicas e descontrair os soldados com suas melodias. O período final da Era Vargas, os ensaios à redemocratização do país e o fim da guerra, de certa forma, estimulavam um certo “nacionalismo” brasileiro. Neste contexto, os anos 1940 em Barretos foram devotados também à institucionalização da história local, visto que o passado da cidade começou a ser reescrito em biografias, notas e memórias assinadas por jornalistas como José Eduardo de Oliveira Menezes, Ruy Menezes, Jerônimo Serafim Barcellos, Virgílio Alves Ferreira, entre outros. Tais registros, junto a descoberta do documento de doação das terras das famílias dos fundadores, serviram como base para a criação do “Dia da Cidade”, 25 de Agosto (por ser esta a data, no ano de 1854, em que as famílias Barreto e Marques teriam doado as terras para a construção da capelinha e do patrimônio de Barretos). Foi assim que, em 1943, quando a cidade tinha 89 anos de fundação oficial, a Associação Comercial e Industrial de Barretos (1936) e o jornal “Correio de Barretos” realizaram o primeiro desfile cívico, além de conferências, concursos e outras atividades. Por conseguinte, em 1948, pela Câmara Municipal, o “25 de Agosto” passou a ser oficialmente considerado o dia da fundação de Barretos.

O ano de 1950 não só inicia o período dos “anos dourados”, bem como marca a primeira vez em que é tocado publicamente o Hino de Barretos, cuja letra foi escrita por Osório Rocha e a melodia composta pelo professor e maestro Aymoré do Brasil (patrono da cadeira 20 da ABC). Não era por acaso que o momento caminhava para a necessidade de se criar uma história e identidade oficialmente barretenses, visto que o ano de 1954 se aproxima, e com ele as comemorações do 1º Centenário da Fundação de Barretos. Comemorações essas que não foram a efeito previsto por conta da morte do presidente Getúlio Vargas ter ocorrido um dia antes. Porém, parte do planejamento da Comissão do Centenário organizada pelo poder público se realizou com a publicação dos livros “Barretos de Outrora” de Osório Rocha e do “Álbum Comemorativo do 1º Centenário da Fundação de Barretos” organizado pelos escritores Ruy Menezes e José Tedesco. Este álbum se insere como reprodutor da identidade simultaneamente tradicional (bandeirante) e moderna (progresso) por exaltar textos, fotos e poemas sobre o passado de Barretos. Como foi o caso da memorável poesia “Minha Terra” de autoria do poeta barretense Nidoval Reis (patrono da cadeira 23 da ABC) e do trajeto político da cidade pelo farmacêutico e escritor Alcebíades de Menezes (patrono da cadeira 10 da ABC). Com parte da história registrada em livros e o hino da cidade já escrito (apesar de ter sido oficializado somente em 1984), era necessário criar o brasão de Barretos. Foi então que, por meio de um concurso, a desenhista barretense Maria Luiza de Queiroz Barcellos (patronesse da cadeira 35 da ABC) tornou-se a autora do brasão/escudo que eternizava a inscrição em latim “Frates Sumus Omnes” (somos todos irmãos). Já a bandeira municipal foi institucionalizada no ano de 1974, também por concurso, sob a autoria de Luiz Antônio Furlan.

Em 1985 aconteceu primeira festa fora do Recinto Paulo
de Lima Correa (Foto: Arquivo/ Os Independentes)

Ainda dentro deste contexto de identidade, tratando-se de nossa tradição pecuária e boiadeira, tão bem poetizada por José de Assis Canoas, em 1956 foi realizada a primeira festa do peão organizada pelo Clube “Os Independentes”. Festa a qual marcou o nome de Barretos internacionalmente como sede da maior festa de rodeio da América Latina até os dias atuais. Iniciada no Recinto Paulo de Lima Correa em moldes folclóricos e culturais, a 6Fato que ocorreu em 1985 com a inauguração do Parque do Peão “Mussa Calil Neto”, cuja arena foi arquitetada pelo renomado Oscar Niemeyer. A transição da década de 1950 para 1960 foi sublinhada pelo surgimento de duas importantes instituições: a Pinacoteca Municipal (1959) e o Museu Histórico-Pedagógico “Ana Rosa” (1961). Desde 1956, a cidade se dignificava com o evento “Salão Barretense de Belas Artes”, organizado pela professora de artes Maria Aparecida Bernardes Tasso. Tanto que, em 1959, por algumas doações resultantes destes salões, foi criada a “Pinacoteca Municipal”, que a princípio funcionava no gabinete da Prefeitura Municipal. Quando inaugurada, a Pinacoteca recebeu obras do pintor primitivista (arte naife) José Antônio da Silva, cujas telas foram entregues à Prof Cidinha. Tal professora pertencia ao quadro do “Instituto de Educação Mário Vieira Marcondes”, escola que àquela época era dirigida pelo Profº Raul Alves Ferreira. Este, integrado ao projeto pedagógico de museus do governo estadual e nomeando uma comissão de professoras, fundou nas dependências do colégio, o Museu Histórico-Pedagógico “Ana Rosa” com um acervo de mais de 300 peças sobre a história da cidade. Tal museu foi a essência para a criação do museu municipal, criado por lei em 1973, mas que só fora estruturado a partir da doação do acervo do “Ana Rosa” em 1974. Todavia, somente em 1979, sob a mediação da Profª Lydia Scanavinno Scortecci, então Diretora de Educação, Cultura e Turismo, foi inaugurado o “Museu Histórico e Folclórico do Município de Barretos” no prédio do antigo “Paço Municipal”.

Os anos 1960 marcaram grandes avanços nas áreas educacionais e culturais da cidade. Em 1963, por exemplo, a cidade finalmente inaugurava a Biblioteca Municipal “Affonso d’Escragnolle Taunay”, a qual apesar de ter sido criada por legislação em 1942, só foi instalada 21 anos depois e ganhou sede própria no ano de 1981. Já em 1964, Barretos dispunha à população a possibilidade do ensino universitário através da criação da Fundação Educacional de Barretos (FEB), cuja instalação foi em cima do trabalho árduo de muitas pessoas comprometidas com a Educação, tais como o primeiro presidente da instituição Olivier Waldemar Heiland (patrono da cadeira 38 da ABC) e do célebre Profº Roberto Frade Monte (patrono da cadeira 27 da ABC). Além disso, foi em 1967 que a Fundação Pio XII foi instituída na cidade especializando-se no tratamento para pacientes portadores de câncer – outra grande referência de Barretos no mapa do Brasil. Ainda nos anos 1960, os avanços na área da comunicação também se acentuavam, principalmente com a fundação da Rádio Piratininga em 1961 e com o jornal “Diário de Barretos” de 1969. Este último, fundado por João Monteiro de Barros Filho e Joel Waldo Dal Moro (patrono da cadeira 12 da ABC), ainda está em circulação na cidade. Foi importante plataforma não só de notícias, mas também de artigos culturais de colaboradores dos mais diversos segmentos, como o Cônego Archimedes Gai (patrono da cadeira 40 da ABC), que possuía como temática não só a teologia, bem como questões sociais importantes à época. Aliás, a participação de religiosos nas inaugurações das instituições culturais era constante, essencialmente após 1973, quando Barretos tornou-se sede de Diocese.

Depois de uma longa trajetória cultural, vivenciada por variadas instituições fundadas em Barretos, a cidade mostrou-se receptora não só de uma economia pecuária pulsante, mas como um local que abrigou personalidades as quais usavam da sua profissão para produzir cultura. Professores, normalistas, médicos, advogados, jornalistas, engenheiros, escritores, músicos e artistas foram os responsáveis por apresentar e produzir uma cultura artística e institucional aos barretenses, sendo que aos poucos eles mesmos se tornavam consumidores dela. É claro que, concomitante, a cultura popular se emaranha nessa trajetória. E por isso mesmo fica sempre mais difícil citar os nomes de todas as pessoas que produziram cultura na cidade. Porém, é evidente que a ACADEMIA BARRETENSE DE CULTURA, instituição criada em 1º de maio de 1983, na sede da Biblioteca Municipal, tinha por finalidade não só valorizar e disseminar novos núcleos culturais, queria também expor a história cultural da cidade nomeando inicialmente 20 patronos (e depois mais 20) para fazer com que os barretenses apreciadores da arte e beletristas enxergassem que, antes mesmo daquela década de 1980, Barretos construiu uma sólida história cultural através da ação de instituições centenárias e de pessoas! De pessoas!

 


 

VOCÊ CONHECE O HINO DE BARRETOS?

Música: Professor Aymoré do Brasil
Letra: Dr. Osório Faleiros da Rocha

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Por BARRETOS, bandeirante,
DESBRAVADOR do sertão!
Pela PÁTRIA, avante! AVANTE,
Levantado o CORAÇÃO!
Não há divisa mais bela,
Mais NOBRE, mais VARONIL:
Sejamos a SENTINELA (ATALAIA)
Avançada do BRASIL.

O sol ardente o prado e as searas doura.
As BÊNÇÃOS DO SENHOR vêm como o orvalho,
PROTEGENDO os rebanhos e a lavoura,
Os lares, os estudos e o trabalho!

Por Barretos, bandeirante,
Desbravador do sertão!
Pela Pátria, avante! Avante,
Levantado o coração!
Não há divisa mais bela,
Mais nobre, mais varonil:
Sejamos a sentinela
Avançada do Brasil.

DEUS NOS GUIE e conserve sempre UNIDOS,
Como as SUAS OVELHAS o zagal.
Sem distinção de credos e partidos,
Pugnemos pela GLÓRIA NACIONAL!

Por Barretos, bandeirante,
Desbravador do sertão!
Pela Pátria, avante! Avante,
Levantado o coração!
Não há divisa mais bela,
Mais nobre, mais varonil:
Sejamos a SENTINELA
Avançada do BRASIL.